A Filosofia nos Games – O que a filosofia e os games podem nos ensinar sobre a Vida?

Olá amigxs

Inicialmente, esses dois tópicos parecem habitar universos um pouco distintos, porém, eles convivem mais próximos do que você imagina. Esse texto aborda uma série de características presentes nos Games e como, através da Filosofia, podemos fazer uma analogia destes conceitos aplicados a nossa vida prática e cotidiana. Se você gosta de jogar, de viajar e de pensar, pega um cafézinho e vem comigo.

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Vamos começar do começo, uma rápida passagem pelos dois tópicos:

A Filosofia:

  • Resumidamente seria o amor pela Sabedoria
  • Busca pela Verdade através do Conhecimento
  • Aplicação práticas na Vida e no dia a dia

* no final dessa postagem há uma definição mais completa do que é Filosofia

Os Jogos:

  • Ocupam grande espaço (e tempo) em nosso mundo pós-moderno impulsionado pelos uso de smartphones
  • Estão presente entre os homens desde civilizações muito antigas
  • Fato interessante: não se conhece na mitologia a existência de um deus do Jogo, pois todos os deuses jogam
  • Sabe-se que o vício em jogos (eletrônicos ou não) é um problema em diversos países, mas será que o jogo nos traz apenas coisas ruins? Óbvio que não, os Jogos também tem o seu lado positivo, vou abordá-los na sequência, pois precisamos analisar e olhar para a questão mais de perto, de forma mais profunda.
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Lindas paisagens de God of War

Encantamento pelo jogo

Uma das principais características dos games é o poder de imersão que eles nos trazem, assim como nos filmes, muitas vezes criamos uma conexão mais profunda com o jogo, seu ambiente e seus personagens. Dentro dos games nosso objetivo natural é a evolução, o progresso: construímos mundos, ganhamos ferramentas e habilidades, derrotamos inimigos e seguimos em frente — ou seja — estamos sempre em busca de cumprir os objetivos e nos realizar como heróis dentro do jogo(vou retornar nesse assunto mais a frente)

Da mesma maneira, assim como nos jogos, nós Homens estamos em busca de evoluir, aprender, nos desenvolver, progredir, realizar todo o potencial que temos como seres humanos. A evolução é o caminho natural do homem, seja na vida ou dentro dos games. Porém vale lembrar que tudo isso é construído em um mundo virtual, e que curiosamente, nem todos os jogadores trazem os valores existentes nos jogos para a vida (ou seja quem é escroto na vida vai continuar a ser no mundo virtual e não vai aprender nada nos games ou na vida) cotidiana no mundo real.

O descontrole e o vício nos jogos podem ser causados por uma série de fatores psíquicos e sociais, dentre eles: uma possível falta significativa de Realizações e Conquistas no mundo real, bem como dificuldade de lidar com as Frustrações presentes na Vida, fazendo com que o indivíduo busque realizar essas fantasias e desejos dentro do jogo, dentro de uma vida virtual. O indivíduo busca ser herói no jogo pois não é capaz de ser herói da própria vida. Obviamente devemos lembrar que os desafios da Vida real são muito mais complexos e desafiadores do que os desafios de um jogo, porém nem todas as pessoas tem a capacidade de lidar com essa linha divisória.

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Warning … Danger … Guy Playing Too Much Alone


Benefícios dos Jogos

Falamos um pouco sobre o lado negro dos jogos, mas será que eles também não podem ser saudáveis? Claro que sim!

Eu, pessoalmente jogo videogame há pelo menos 28 anos, eles foram uma peça importantes no meu entendimento no conceito de diversão moderna, mas que acabou criando pontes com os alunos e também na minha vida e continuam sendo até os dias de hoje uma fonte de aprendizado. Já tive varias discussões sobre o benefício versus malefício dos games com diversas pessoas mais velhas, que estavam preocupados com o tempo que os guris passavam na frente dos games. Eu sempre incentivei os games, claro, desde que haja moderação, pois penso que tudo na vida é uma questão de Equilíbrio

Nada em excesso é saudável: comida demais, dormir demais, trabalhar demais, beber demais, fumar demais e até fazer sexo demais é prejudicial a vida de qualquer pessoa. Hoje, alguns anos depois do inicio dessa jornada de conhecimento sobre os games, eu vejo guris e gurias que só tiram nota 9 e 10 na escola em todas as matérias e tem um ótimo rendimento; não estou dizendo que isso é por conta dos games, mas sim, que o videogame não o impactou de forma negativa, e aparentemente teve um impacto positivo. Há habilidades e competências, desenvolvimento motor e cognitivo que os jogos produzem e que podem impactar no sucesso desses guris durante a vida profissional deles.

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Monument Valley — jogo inspirado na arte e perspectiva isométrica de M.C. Escher

Ao meu ver os games são ferramentas importantes, indispensáveis e fundamentais para o desenvolvimento de uma série de características importantes em um indivíduo, para citar algumas:

  • Aumento na velocidade de raciocínio
  • Melhoria no tempo e método para resolução de problemas
  • Melhorias na coordenação motora
  • Melhorias na capacidade de lidar com erros e frustrações
  • Cooperação entre indivíduos (trabalho em grupo, times, squads)
  • Momentos de relaxamento e redução de stress, descontração, socialização
  • Aumento em algumas faculdades cognitivas como a memória, reconhecimento de sons, localização espacial, visão, e outros
  • Melhorias no poder de atenção e concentração (porém o excesso de games também pode prejudicar este fator, polaridades…)
  • Estímulos e aumento na criatividade (jogos como Minecraft por exemplo)

Além disso, podemos fazer uma interessante analogia dos games com os Filmes, Livros e Discos — eles nos trazem inspiração, motivação, estímulos para viver, são fontes de energia e também são ótimos para nossos momentos de relaxamento e descontração, momentos esses que são vitais para nossa saúde mental.

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Bela arte dos cenários de Zelda

VIDA versus GAMES: uma analogia

O que a filosofia e os games podem nos ensinar sobre a Vida?

Objetivos claros

Em qualquer jogo, o seu objetivo deve ser claro, caso contrário o jogo fica sem sentido, não é mesmo? Jogamos pois estamos justamente em busca de objetivos a alcançar. Mesmo em um jogo de contemplação, de certa maneira também há um objetivo, que neste caso é explorar, contemplar, catalogar, etc.

Penso que, assim como nos jogos, na vida é preciso ter alguns objetivos claros, caso contrário ela também pode ficar meio sem sentido. Na vida, assim como nos games, quando estamos sem objetivos, ficamos à deriva, sem saber o que fazer ou pra onde ir, em estado de inércia. Aproveito para citar uma famosa frase do filósofo Sêneca que diz:

 

“Se você não sabe para qual porto está navegando, nenhum vento é favorável”

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Valores paternos também são ensinados no enredo do novo God of War

VIDA versus GAMES

Dentro dos jogos aceitamos todos os desafios que nos são propostos e impostos sem pestanejar ou reclamar, afinal estamos ali pra isso, ser desafiados e mostrar todo nosso potencial. No jogo não ficamos parados, estamos sempre em movimento, buscando objetivos e desafios a todo momento, caso contrário nem estaríamos jogando, certo? Esses desafios vão ficando cada vez mais difíceis e nos estimulando cada vez mais a crescer e evoluir; quanto maior o desafio, mais motivados nos sentimos em transpor aquele obstáculo ou aquela fase. Mas será que na Vida real os jogadores também se comportam dessa maneira? Vejo que não…

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Angry Birds

Muitos de nós, em diversos momentos, passamos boa parte do tempo reclamando dos desafios e dificuldades que nos são impostas pela vida no dia a dia, e ao contrário da postura que assumimos nos jogos dentro do mundo virtual, não aceitamos esses desafios de peito aberto em busca de uma evolução e solução — mas e se adotássemos o mesmo mindset que temos nos jogos para os problemas da nossa Vida?

Desafios encarados como diversão

Outra questão importante é a postura que assumimos em relação aos desafios que nos são impostos. Dentro dos jogos encaramos nossos problemas e desafios como diversão, como algo positivo, vamos de encontro a eles em busca de uma evolução e solução. Porém infelizmente na Vida real nem sempre adotamos essa mesma postura, tanto eu como você tendemos a reclamar dos nossos problemas, tentamos evitá-los, falta energia e coragem para tentar resolvê-los, não os vemos como diversão como acontece nos jogos.

A Vida, assim como os jogos, pode ser vista como uma sequência de provas e desafios que, com o passar do tempo, vão ficando cada vez mais difíceis e complexos, podemos observar esse padrão na vida e também nos games. O personagem (no caso, você ou eu) também vai perdendo suas energias, capacidades físicas, reflexos, e com uma armadura mais fraca ou pouca vida sabemos que jogo fica mais difícil.

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Com que frequência você encara os seus fantasmas?

Na Vida, tendemos a ver as dificuldades como problemas, e não como possibilidades de crescimento e evolução. Não é a toa que muitos dizem que “é tudo uma questão de ponto de vista” ou traduzindo isso em um termo moderno e descolado: mindset.

* quero deixar aqui a indicação do livro Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso da Carol Dweck como leitura complementar.

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Gostaria de deixar a seguinte provocação para você amigo leitor: já tentou adotar o mesmo mindset que você tem quando joga videogame na sua vida prática e real?

Esforço e Recompensa

“Ama-se mais aquilo que se conquista com esforço” Aristóteles

Já imaginou se o jogo do Super Mario 2 tivesse apenas uma fase?

Pois é, você deve estar pensando na sua cabeça que isso não faz sentido, ninguém jogaria, pois não teria graça nenhuma e não seria nada desafiador. Jogos de sucesso são desafiadores e divertidos ao mesmo tempo (vale lembrar sobre a teoria do Flow). Nos games sempre temos um longo caminho pela frente, e durante este caminho algém das dificuldades também temos as recompensas, será que na vida não acontece o mesmo? Existe também aquele provérbio oriental “sem dor / sem ganho”. Tendemos a valorizar muito mais nossas as conquistas quando elas são frutos do nosso esforço e dedicação.

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Mapa do Super Mario World 2 — eterno clássico

Porque não adotamos essa postura também em relação aos problemas da Vida no dia a dia? Se fosse simples, fácil, rápido, sem desafio, não teria graça nenhuma. Já parou pra pensar que a Vida em si é uma das coisas que mais se assemelham (de creta forma) a um Jogo? Ganhamos, perdemos, aprendemos, mudamos, evoluímos, nascemos, morremos, continuamos. Em nossa vida, assim como nos jogos, quando conquistamos algo depois de muito trabalho e dedicação, a conquista acaba tendo um gosto muito mais saboroso e especial. As disputas esportivas como a Copa do Mundo e as Olimpíadas também são um exemplo claro disso.

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Eu na vida…

Desenvolver habilidades e tomar decisões

No início dos games as tarefas e desafios são bem mais simples, com o tempo as dificuldades e desafios vão aumentando continuamente; porém ao mesmo tempo nosso personagem também vai evoluindo, ganhando novas habilidades, ficando mais forte, dominando novas ferramentas para poder superar esses crescentes desafios. Já reparou que acontece o mesmo em nossa vida?

Nos jogos também carregamos vários equipamentos que podem nos auxiliar no caminho: itens, magias, armas, ferramentas, etc; e da mesma forma na vida o que temos é nosso caráter, nossa ética, nossos valores para lidar com as adversidades que aparecem em nosso caminho, tomar as decisões que julgamos ser corretas e seguir em frente.

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Mapa de Armas, Habilidades, Objetivos, Recursos em God of War

Todas essas habilidades que desenvolvemos são um Meio e não um Fim em si mesmas. Tanto na vida quanto nos jogos somos obrigados a tomar decisões a todo momento, e não podemos escapar disso, cabe ao jogador saber tomar as melhores decisões no momento correto e desenvolver o potencial do seu personagem durante o seu caminho.

Chefões

Na final de cada nível eles sempre estão lá, falando no português claro, os temidos “chefões” ; ) Qual o objetivo dos chefões? Muito simples: colocar a prova todas as nossas habilidades desenvolvidas naquela fase, ou seja, nos ajudar a fixar nossas evolução e aprendizado, como se fosse literalmente uma prova.

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Paisagens incríveis e a bela iluminação de Shadow of Colossus

Da mesma maneira, em nossa vida sabemos que as provas são constantes. Em determinado momento sempre surge aquele desafio mais complexo, mais desafiador, onde você terá que aplicar tudo que sabe, leu e aprendeu para tentar resolver aquele problema e conquistar o seu objetivo. Muitas dessas provas são marcantes e te levam a um novo patamar na sua vida pessoal e/ou profissional. Tanto nos games quanto na vida temos que enfrentar os chefões e eles nos ajudam a crescer e evoluir.

Arquitetura e Design dos Games

Regras

O game designer cria as regras e a física do jogo, todas as regras e leis precisam estar muito bem definidas e estruturadas ecada jogo tem suas características, por exemplo, o personagem não pode atravessar paredes, nem pular mais do que X metros, correr a certa velocidade, etc — ou seja, temos as limitações e precisamos aprender a lidar com elas para que possamos jogar.

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Sonic — um eterno clássico da SEGA

Todas as ferramentas do jogo tem um propósito bem definido, nem a mais, nem a menos do que você precisa. Se o jogador não consegue ultrapassar os desafios é sinal de que ele não os dominou, nem sabe usar suas ferramentas da melhor forma. A partir do momento em que ele consegue ser mestre de suas ferramentas e habilidades, ele irá conseguir vencer o desafios e seguir para a próxima fase.

O jogador busca entender o jogo e suas regras, testa os limites e não questiona as regras impostas pelo jogo. Será que na Vida temos a mesma postura com as leis que nos são impostas e não temos controle, como as leis do universo por exemplo? Assim como nos jogos, na vida temos Leis que regem nossas relações com as pessoas, com as coisas e com o mundo, temos que “saber jogar” (lidar) com essas leis para que possamos nos relacionar com os outros e com o mundo, respeitar o espaço de cada um e viver de forma harmônica em sociedade.

Avatar

Um avatar é uma representação do jogador dentro de um universo virtual. Já parou pra pensar nas questões psicológico-existenciais envolvidas nisso? Creio que a maioria das pessoas nunca parou pra pensar nessa questão, como é maluco o fato de você poder assumir um outro papel com características completamente diferentes de você em um mundo virtual — games como The Sims, Second Life, GTA e uma série de outros mostra o impacto que isso tem sobre as pessoas. Hoje em dia com a criação dos óculos VR esse poder de imersão se tornou ainda maior.

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Facebook VR

Experiências digitais imersivas, como games e mundos virtuais, tomam emprestado o termo ‘Avatar’ como a representação projetada do usuário dentro do ambiente imersivo. Neste contexto, o avatar pode tanto buscar a representação íntegra do usuário no ambiente virtual projetado (usualmente quando em Metaversos) ou extrapolá-la como personagens imaginários e/ou antropomórficos quando em ambientes imersivos mais lúdicosWikipedia

É interessante observar que um dos significados da palavra Avatar em sânscrito é “…a encarnação do Real no Virtual”, ou seja, a encarnação de nossos valores universais e eternos (justiça, bondade, fraternidade, etc) em um corpo virtual, que no caso seria eu ou você, sua personalidade e suas características, que estão temporariamente encarnadas em um corpo físico.

Como é possível uma palavra tão antiga ter relações com nosso mundo digital pós-moderno?

Em diversas escolas de pensamento e religiões antigas (como o Budismo) a Matéria é ilusória e passageira, efêmera. Daqui a mil anos, esta mesa que apoia o meu computador enquanto escrevo irá deixar de ser mesa, assim como possivelmente meu computador vai deixar de ser computador e eu, também deixarei de ser eu. Isso quer dizer que neste exato momento a mesa, o computador e eu somos virtuais; somos projeções de algo real em um mundo virtual. Nesta ótica, o Eterno seria o Real, aquilo que está além de todas essas projeções temporárias no virtual, o que está além daquilo que conseguimos ver como matéria, além do mundo das formas. O Real seria o nosso “espírito” e o virtual nossa “personalidade”.

Podemos também mudar isso de nível e fazer uma analogia onde o Jogador é o “espírito” e a “personalidade” é o nosso Avatar no game; seria isso o virtual dentro do virtual? 

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Outro paralelo muito interessante de se pensar entre os avatares e a nossa Vida é que, ao longo dela assumimos vários papéis, em diferentes níveis e em diferentes fases. Em alguns momentos você é o filho, em outros o marido, o designer, o pai, o colega de trabalho — nossas Personas. Mas será que existe um fio que conecta todas essas personas? Sim, esse seria exatamente o Real, o eterno, aquilo que está além da matéria. Cada situação e período da nossa vida nos demanda habilidades diferentes, comportamentos diferentes, pensamentos diferentes, e da mesma maneira temos que aprender a usar as nossas habilidades adquiridas para superar esses obstáculos reais que são colocados em nosso caminho.

O Enredo

Joseph Campbell, além de ter tido grande influência na Psicologia Analítica, foi um homem que dedicou toda sua vida ao estudo dos Mitos ou do chamado Estudo da Religião Comparada, onde analisou uma série de mitos e religiões de diversas civilizações, em diferentes tempos, em busca de padrões e repetições.

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Star Wars

Curiosidade: reza a lenda que George Lucas e Campbell eram amigos e que ele influenciou diretamente no roteiro de Star Wars seguindo ideias dos estudos do arquétipo do herói para que a história fosse atemporal, humana e atingisse todas as gerações.

Um desses arquétipos, se não o mais famoso, é o Arquétipo do Herói. Campbell percebeu que haviam certos elementos em comum em praticamente todos os mitos e histórias de heróis da humanidade, fossem eles antigos como Baghvad Gita, Teseu e o Minotauro, Odisseia, ou contemporâneos como Matrix, Star Wars, O Senhor dos Anéis, e uma série de milhares de outros.

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A Jornada do Herói – Gráfico

Resumidamente, a primeira grande etapa seria a apresentação do herói, este que tem seus defeitos (gula, preguiça, etc) e também suas virtudes (bondade, coragem, etc). A segunda parte é o desafio, onde é proposto ao personagem um grande desafio e ele se entrega inteiramente a esse desafio. É interessante ressaltar a que em praticamente todos os mitos há a presença de uma Mulher (Alma ou Ânima) — aquilo que anima, que move, que cria. E por fim ao completar sua missão, ao derrotar o inimigo ele obtém a realização e a plenitude e volta para sua casa transformado, seu momento de redenção. Se você analisar esses filmes mencionados verá que esses ingredientes estão em todas as histórias, antigas e modernas. Abaixo um breve vídeo do TED-Ed que explica o arquétipo e a jornada do Herói do Joseph Campbell: 

Todas essas histórias são vestimentas diferentes para uma mesma ideia atemporal que se repete, e que na verdade trata da história do ser humano em busca de sua realização como Homem e superação dos seus desafios no dia a dia.

Tutorial

No início dos games temos que passar por alguns Tutoriais, eles são úteis para nos explicar como as coisas funcionam, quais são as leis existentes, objetivos, regras, quais são as ferramentas e limitações do personagem e do cenário, entre outras coisas. Os tutoriais também nos ajudam na curva de aprendizado do jogo (ou mesmo de um aplicativo) e estão ali para guiar nosso caminho através do jogo e de seus desafios.

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Descubra e catalogue planetas inteiros em No Man’s Sky

Pois bem, outra analogia que podemos fazer é que o estudo da Filosofia pode nos ajudar sendo nosso “tutorial da Vida real”, a filosofia nos ajuda a direcionar nosso caminho, conhecer as ferramentas disponíveis, dar um certo sentido a nossa existência e também nos trazer conhecimento para que seja possível evoluir como seres humanos. A filosofia também pode nos ajudar na vida prática, no cotidiano, e pode ser usada como ferramenta para uma vida melhor e mais harmoniosa.

Mas afinal pra que serve a Filosofia?

Muitas pessoas associam a palavra filosofia a uma coisa chata, a longas discussões sem conclusão; quando na verdade a filosofia é uma importante ferramenta para o auto-conhecimento e também para as práticas do cotidiano; ela pode nos ajudar a conquistar uma vida melhor.

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Para responder essa pergunta gostaria de mencionar um trecho do livro “A Felicidade Desesperadamente” de Comte-Sponville:

“A verdade é que é perfeitamente possível responder à pergunta “O que é a filosofia?” e até mesmo de várias maneiras diferentes — essa pluralidade mesma já é filosófica. Quanto a mim, adotei a resposta que Epicuro dava a essa pergunta. Ela assume devidamente a forma de uma definição:

 

“A filosofia é uma atividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona uma vida feliz.”

Gosto de tudo nessa definição. Gosto em primeiro lugar de que a filosofia seja uma “atividade”energia, e não apenas um sistema, uma especulação ou uma contemplação. Gosto de que ela seja feita por “discursos e raciocínios”, e não por visões, bons sentimentos ou êxtases. Gosto enfim de que ela nos proporcione “uma vida feliz”, e não apenas o saber e, menos ainda, o poder… Ou, em todo caso, de que ela tenda a nos proporcionar uma vida feliz. Para dizê-lo com palavras que sejam minhas (mas vocês verão que minha definição está calcada na de Epicuro), responderei:

“A filosofia é uma prática discursiva (ela procede “por discursos e raciocínios”) que tem a vida por objeto, a razão por meio e a felicidade por fim. Trata-se de pensar melhor para viver melhor.”

Pra fechar

Em qualquer jogo o seu objetivo sempre é muito claro; da mesma forma penso que nós, como indivíduos, devemos encontrar nosso objetivo e realizar ao máximo todo o potencial que temos dentro de cada um. Você pode jogar diversas sementes no solo, todas tem o potencial de se tornar uma árvore, porém, algumas irão se transformar em árvores e outras não. Todos temos um potencial a ser desenvolvido. Uma das melhores formas de rebelião que o ser humano possui é justamente sua Criatividade. Tanto na Vida quanto nos jogos, não desista, e siga em frente, evolua.

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Antes de terminar quero deixar aqui a indicação de onde se pode jogar e aprender filosofia jogando. Dois cineastas norte-americanos tiveram a ideia de unir teorias filosóficas e games clássicos para facilitar a vida na hora de entender os conceitos de Platão ou René Descartes. Para isso, Jacob S. Salamon e Jared F. Bauer criaram o canal 8-Bit Philosophy, no Youtube. A ideia do projeto “8-Bit Philosophy“, são os vídeos que usam jogos clássicos da era dos videogames de 8-bits – Nintendinho comanda – para explicar complicados conceitos filosóficos. Eles já faziam sucesso com seu outro canal, Thug Notes, que resume obras literárias famosas (como Macbeth, Orgulho & Preconceito, Jogos Vorazes e O Hobbit) usando gírias. A lista inclui pensadores como Aristóteles, Kant e Platão, e games como Metroid, Contra e Zelda. Nesse link, a playlist original, com todos, em inglês. Nesse outro, alguns episódios legendados para o português (também é fácil encontrar com legendas em espanhol no YouTube).

Abaixo, um dos meus preferidos, Mega Man + Nietzsche.

O outro é um jogo para Android chamado “Caminhada: A filosofia”. Que é um jogo onde você (jogador) pode aprender as idéias de filosofia e terapia da fala de Viktor Frankl enquanto joga e se envolve com as histórias experimentadas. O jogo deve ser jogado prestando atenção à mensagem que é passada, e pode ajudar o jogador a entender que “a realidade objetiva pode ser alcançada”

Bem tem coisa a beça pra ler, jogar, pensar e filosofar

Abraços filosóficos gamificados a todxs

Robson Freire

A fonte desse artigo foi inspirado pela palestra do Saulo Camarotti, filósofo e produtor de games e que foi feito/escrito por Odair Faléco

 

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